sábado, 22 de agosto de 2009

Uma história de vida

Carlinhos não teve o direito de ser criança, brincar de carrinho e jogar futebol com os colegas na rua. Aos 4 anos, ele fugiu da casa onde morava, em São Paulo, levado pelos irmãos mais velhos, que não aguentavam mais as constantes agressões dos pais. Pouco tempo depois, se perdeu e ficou sem ninguém da família.
Por não ter o que comer ou para onde ir, pediu esmolas e dormiu na rua. Morou na Praça da Sé, no centro da capital paulista, até ser levado para uma unidade da FEBEM (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor, atual Fundação Casa). "(...) Lembro que meu pai batia neles (nos irmãos) e na minha mãe. E ela batia neles e em mim. Aí eles fugiram e a gente se perdeu. (...) Tinha um monte de moleque lá e a gente se juntou. (...)
Com 5 anos cheirava cola porque tirava a fome e o frio", revelou o participante no reality show A Fazenda. Da instituição para menores, o Mendigo foi parar em um colégio interno mantido pela prefeitura da cidade.
Foi então que a história dele começou a mudar.
Aos 14 anos, o rapaz chamava a atenção pelo bom comportamento e pela alegria de viver. Então, ele recebeu uma ajudinha pra lá de especial: por meio de um dos diretores da escola, Carlinhos foi apresentado a Margot Leopoldo e Silva de Carvalho, mãe do dono da Jovem Pan, Antonio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha, que o levou para trabalhar como officeboy na emissora.
"Na hora do almoço ele descia até a rádio. Deixava de comer para ver o Pânico no estúdio. E começou a conhecer o pessoal, fez amizade.
O Ceará (Wellington Muniz), que na época fazia o Paulo Jalaska, percebeu que o Carlinhos tinha talento e o chamou para ajudar nas paródias toscas das músicas internacionais. Depois, como ele dava uns arrotos em público acabou virando o homem-arroto: falava a escalação da Seleção Brasileira de futebol inteira com o som que conseguia fazer com a boca (risos). Daí em diante, todo mundo conhece a história", contou Vinícius.
Pouco a pouco, com garra e talento, o artista conseguiu superar as barreiras e mudou o destino a seu favor. Consagrou-se humorista no Pânico, tanto no programa da rádio quanto na TV, onde ficou até o final de 2007, quando foi contratado pela Rede Record.
Da família, nunca mais teve notícias concretas. "Uma ocasião, uma menina ligou na rádio dizendo que era irmã dele, estava viva e casada, e o procurava. Mas o Carlinhos não ligou, avisou que não queria saber. São muitos traumas, muitas mágoas", disse o comediante que faz o Gluglu.
Dessas dificuldades pelas quais passou, Carlinhos tirou uma lição: ajudar o próximo. Sempre que tem festa de reencontro dos ex-internos no educandário onde residiu, ele faz questão de ir e levar os amigos. "Ele vai, joga bola com o pessoal, abraça a galera, os senhores que cuidaram dele, é muito bacana.
O Carlinhos é um cara de coração grande, gente boa, leva tudo de bom humor, é um exemplo", declarou Vinicius, bastante comovido. E para quem pensa que o apelido que o deixou nacionalmente conhecido vem do fato de ele ter morado na rua, engana-se.
"Um dia, durante uma gravação, encontramos um mendigo muito engraçado e o Carlinhos começou a imitá-lo. Ficou perfeito e pegou", divertiu-se o humorista.
E, superando todas as cruéis expectativas, o jovem conseguiu se esquivar da marginalidade, das drogas, da prisão e até mesmo da morte.
Reescreveu sua história por intermédio do carisma e do talento de fazer rir.

Um comentário:

  1. Isso aê. São esses casos que nos mostram que é possivel sim vencer na vida, sem roubar, matar ou fazer qualquer outra coisa que esteja envolvida com a marginalidade. Carlinhos e sua história, são um verdadeiro exemplo pra todos!
    Parabéns!

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